sábado, 21 de setembro de 2013

Ultra-romantismo de um ser atormentado

Gostaria de falar um pouco sobre poesia, o que entendo disso? Eu confesso que quase nada. Escrevo versos e mais versos ao papel, palavras que se perdem no horizonte negro de uma paisagem ensolarada, rimar sem rimas, a-b-a-a b-b-c-c, frases que nos invadem, sentimentos que não fazem sentido algum e assim deve ser e romance, acima de tudo o mórbido e romântico romance, mas vamos ao que interessa: Gostaria de falar um pouco sobre poesia, o que eu entendo disso? Eu confesso que quase nada. Mas por que não falar então de alguém que entende? acima de tudo meu poeta favorito, falemos então de Alvares de Azevedo!
Álvares de Azevedo
A Lira dos Vinte Anos é de longe meu livro de poemas favorito e o li diversas vezes, confesso que poucos são os poetas que conseguiram chamar minha atenção para me encantar e o poeta, dramaturgo, romancista e tradutor que conseguiu isso com total maestria foi meu caro Azevedo, poeta brasileiro cuja obra estou estudando para um projeto científico para a faculdade (juntamente com Edgar Allan Poe) e após ler esse livro de poemas tantas vezes pela biblioteca, ontem (20/09/2013) eu tive a decência de comprá-lo afinal e o reli numa tarde, passando pelas três liras com a mesma emoção de quando lido pela primeira vez.
mas falando um pouco das liras:
O livro foi escrito na segunda geração da poesia romântica brasileira, fase conhecida como Ultra-romantismo e dividiu-se em três partes: Na primeira delas, Azevedo se apresenta como um poeta sonhador. Durante as poesias, uma série de virgens místicas desfilam pelas páginas banhadas em sangue e mel, atribuindo a ele um clima fantástico e suavemente sensual. Já no segundo trecho, Álvares de Azevedo apresenta sua outra face, e adverte o leitor de que seus poemas tomarão um rumo diferente. "Cuidado leitor, ao voltar esta página!", escreve ele, "Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica...". Segue-se então uma poesia mais sombria, povoada de cadáveres, vultos e festas boêmias, onde poeta revela estar próximo da morte, deixando "a vida como quem deixa o tédio/ Do deserto, o poento caminheiro". Enfim, na terceira, e última, Lira, ele retoma a mesma fantasia poética e sonhadora da primeira parte do livro. 
Lira do Vinte Anos é um composto do que há de melhor e mais autêntico na produção do poeta Álvares de Azevedo. Feita de palavras peculiares, a obra expressa com fidelidade a essência deste autor, que buscou incessantemente pelo amor e encontrou na boêmia um caminho para fugir da realidade. Embora tenha morrido aos 20 anos, Azevedo produziu uma obra poética de altíssimo nível, deixando registrada a sua incapacidade de adaptação ao mundo real e o seu potencial de elevar-se a outras esferas, utilizando-se do sonho e da fantasia. Estabelecendo-se na dúvida dos poetas da geração do mal du siècle, herdou deles o pendor do desregramento, para a vida boêmia e para o tédio. Contrabalança a influência de Byron com os devaneios de Musset, Hoffman entre outros...
Mas agora, depois de tanto falar, só faltam minhas caras rosas e para deixar um gosto a mais, deixo-lhes também um poema de cada Lira somente para vocês! Os poemas que mais chamaram minha atenção e os que mais admiro, aproveitem:

ROSAS PARA LIRA DOS VINTE ANOS: 10 rosas vermelhas!!!

Primeira Lira:
No Túmulo do Meu Amigo
JOÃO BATISTA DA SILVA JÚNIOR

EPITÁFIO

Perdão, meu Deus, se a túnica da vida.
Insano profanei-a nos amores!
Se da c'roa dos sonhos perfumados
Eu próprio desfolhei as róseas flores!

No vaso impuro corrompeu-se o néctar,
A argila da existência desbotou-me!
O sol de tua glória abriu-me as pálpebras,
Da nódoa das  paixões purificou-me!

E quantos sonhos na ilusão da vida!
Quanta esperança no futuro ainda
Tudo calou-se pela noite eterna...
E eu vago errante e só treva infinda...

Alma em fogo, sedenta de infinito,
Num mundo de visões o vôo abrindo,
Como o vento do mar no céu noturno
Entre as nuvens de Deus passei dormindo!

A vida é noite! O sol tem véu de sangue...
Tateia a sombra a geração descrida
Acorda-te, mortal! É no sepulcro
Que a larva humana se desperta à vida!
Quando as harpas do peito a morte estala,
Um treno de pavor soluça e voa:
E a nota divinal que rompe as fibras
Nas dulias angélicas ecoa!
Segunda Lira:
Minha Desgraça

Minha desgraça não é ser poeta
Nem na terra de amor não ter um eco.
E, meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...

Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro...

Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que meu peito assim blasfema,
É ter por escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
Terceira Lira:
Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No elevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração!
Que noite! Que noite bela,
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Até a Próxima!




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